segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Dr. Google: inimigo ou aliado?


google

Cybercondria é um termo que começou a se popularizar a partir do ano 2000 para designar o comportamento de se tirar conclusões precipitadas ou extremamente negativas ao se procurar informações sobre saúde (e especialmente sobre sintomas) na internet. Exemplo clássico é o paciente que, incomodado com uma simples dor de ouvido, procura o Dr. Google para saber o que tal sintoma pode significar. Dentre os resultados, descobre que pode ter desde um simples resfriado até um abscesso cerebral. Obviamente, ele não vai se contentar com o diagnóstico de resfriado. Vai entrar em pânico e procurar um médico pensando estar com o abscesso.
 Eu poderia optar por criticar o quão errada e perigosa é essa postura. No entretanto, seria perda de tempo. Os pacientes já estão habituados a fazer isso. A cybercondria é uma realidade e já foi até quantificada.

 Em uma conferência sobre Saúde 2.0 em Seattle no início deste ano, tomei ciência do alarmante fato de que um em cada três internautas costumam pesquisar por seus sintomas em algum buscador on-line quando estão doentes. E faz total sentido, principalmente agora, com a internet móvel e os smartphones, é absolutamente mais fácil (e até econômico) fazer uma pesquisa no Google do que agendar um horário num consultório para esclarecer dúvidas com vários médicos de diferentes especialidades. Quem tem que se adaptar à nova realidade de receber um paciente com uma pilha de artigos encontrados no Google é o médico. A cybercondria se torna preocupante quando se considera que a internet é extremamente democrática. Qualquer pessoa pode se tornar um disseminador de informação no campo que desejar.

 Dessa forma, sobrecarga de informações, fontes tendenciosas, jargões complicados, recomendações conflitantes e histórias que parecem estar sempre invocar os piores cenários possíveis são mais comuns que sites com informação médica confiável e ponderada. Especialmente em nosso idioma. Quando penso nisso, sempre me lembro de uma excelente metáfora de um dos meus mentores na Terapia Intensiva, que dizia que “a internet é como papel higiênico: aceita qualquer porcaria”.

 O que quero dizer com isso tudo é que existe a necessidade de que os médicos se façam presentes como fontes seguras de informação sobre Saúde na internet, seja por meio de blogs, perfis no Twitter ou qualquer outra rede social. Foi-se o tempo em que nossa obrigação de cuidar se limitava ao momento em que o paciente adentrava o consultório.

 O perfil do paciente mudou e não adianta reclamar ou criticar. A relação médico-paciente também mudou. No mundo atual, mais do que nunca, os médicos têm uma obrigação ética de informar e disseminar conhecimento para a população. Acredito que, mais do que nunca, o Juramento de Hipócrates precisa de um update quando diz que “Em toda casa, aí entrarei para o bem dos doentes”. Está na hora de percebermos que as portas pelas quais entramos já não são mais as mesmas.

Texto escrito por: Mariana Perroni Médica Intensivista e Clínica Também escreve, eventualmente, no Blog Doutor Teuto
CRM: 126.358 (SP)
email: mperroni@gmail.com

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